ASTROLOGIA NADI
- Henry Feder

- 31 de jul. de 2024
- 11 min de leitura
Atualizado: 8 de fev.
Por Henry Feder
Acharya Instrutor do Ashram Sarva Mangalam - SDM
Pouco conhecido no Brasil, o sistema astrológico chamado nadi é um dos vários existentes na Índia e, certamente, se encontra entre os mais interessantes, com um método bastante diferente dos demais conhecidos no Ocidente
Existem na Índia vários sistemas astrológicos antigos, alguns de origem pré- védica, e outros com influências vindas de outras civilizações invasoras como a grega helenística e a muçulmana. Um dos mais interessantes e de origem notadamente do sul da Índia é o chamado nadi (dravidiana).
Os sábios indianos de aproximadamente 2.000 anos atrás recolheram em folhas de palmeira preparadas, milhões de mapas astrológicos e suas respectivas interpretações constando a vida passada, presente e futura, com o nome da pessoa, dos pais, irmãos, filhos, esposa (o), doenças, eventos principais, etc.
Essas folhas de palmeira continham assuntos variados como curas pelas ervas (ayurveda), alquimia, kayakalpa ou aumento da longevidade, e diferentes ramos de predição. Eram escritas originalmente em sânscrito e, há mil anos, os reis chola do sul da Índia e o rei marata Sarabhoji – sendo patronos das artes e ciências – mandaram reunir as folhas disponíveis, tanto astrológicas como de outras ciências, e traduzi-las ao tamil da época (tamil arcaico antigo), reunindo-as numa grande biblioteca no palácio Saraswati Mahal, que existe até hoje em Tanjavur.
Durante a dominação britânica, há cerca de 300 anos, muitas dessas folhas foram levadas a leilões e arrematadas, principalmente as relacionadas com medicina e ervas. Sabe-se que, há aproximadamente 60 anos, uma determinada seita indiana da comunidade Valluvar, especializada em astrologia, comprou uma enorme quantidade dessas folhas astrológicas da Biblioteca Thanjavur Saraswati Mahal, e juntaram com as que já tinham. As folhas estavam ali aproximadamente desde o século 13, e os antigos, entendendo o seu valor, copiaram-nas também em folhas de palmeira, fazendo réplicas exatas que foram passadas de geração em geração. Atualmente, seus descendentes vivem dessas leituras; é uma profissão hereditária. A linguagem dos nadi é poética, do mesmo teor dos templos antigos. Alguns dos nadis originais estão disponíveis na Biblioteca de Manuscritos Orientais em Chennai (Madras), porém em estado mutilado. Aparentemente, inicialmente foram escritas em peles de animais e folhas, sendo posteriormente copiadas. São conservadas com aplicação de óleo extraído do sangue de pavão.
Em tamil, naadi significa "buscar"; no tempo apropriado, o indivíduo vem em busca de seu naadi, mas não é fácil encontrá-lo pois, primeiro, é necessário encontrar um leitor nadi e, depois, através dele, achar sua folha, se é que ela existe no arquivo daquele leitor.
Segundo o dr. B. V. Raman – conceituado astrólogo e editor da The Astrological Magazine – existem talvez 72 tipos distintos de nadi. Por exemplo: Sri Kausika Mahasiva Nadi, Agasthya Nadi, Sukar Nadi, Brhigu Nadi, Drhuva Nadi, Markandeya Nadi, Budha Nadi, Chandrakala Nadi, Kapila Nadi, Kaka Bhujandar Nadi, Kowmara Nadi, etc.
Segundo o dr. Raman, os nadis são divididos em dois grandes grupos gerais: Mantra Nadis e Tantra Nadis, cada qual com 36 tipos. Os Mantra Nadis são baseados no poder e controle de Kshudra mantras (invocação de espíritos), mas sob cobertura da astrologia; os Tantra Nadis são baseados na matemática e parcialmente em Mahamantras, envolvendo algo mais do que preceitos astrológicos. Existem também 36 Prasna Nadis, ou Nadis horários, para perguntas e respostas.
Do ponto de vista técnico da astrologia, cada nadi utiliza sua própria metodologia. Por exemplo, a palavra chandrakala nadi representa seu samgya, ou sinônimo, que é o número 16, sendo o sistema baseado nos 16 mapas divisionais de Parashar (parecidos com os mapas harmônicos do Ocidente); Drhuva é sinônimo de 5, usando, portanto, apenas cinco mapas divisionais; e assim por diante.
Em sânscrito, a palavra nadi significa "canal", pelo qual flui algo. Na ayurveda – antigo sistema indiano de medicina – são os canais energéticos pelos quais fluem as energias dos chacras, ou centros energéticos do corpo. Na astronomia, a palavra era usada como unidade ou canal de medida de tempo, a partir da respiração (prana):
1 prana = 10 sílabas longas (gurvakshara) = aproximadamente 4 segundos
6 pranas = 1 vinadi = 24 segundos
60 pranas = 1 nadi = 24 minutos
60 nadis = 1 dia (1 ahoratra) = 24 horas
E assim por diante, até se chegar aos dias divinos, Eras ou Yugas.
Os rishis ou sábios indianos de outrora tinham tanto o conhecimento interior do ser, como do exterior ou físico e, assim, conseguiam aliar as técnicas astronômicas/astrológicas com os siddhis ou poderes interiores desenvolvidos pelo ritmo dos sons ou mantras apropriados.
Vejamos agora exemplos de leitura nadi, expostos por astrólogos indianos que visitaram os leitores nadi (textos obtidos em livros e artigos de revistas indianas sobre o assunto).
Como é encontrada a folha de palmeira no maço de folhas existentes?Após marcar uma hora com o leitor nadi – com certa antecipação, pois só é possível atender de duas a três pessoas por dia – ele tira a impressão digital do dedão da mão direita, para os homens, e da mão esquerda, para as mulheres, na tentativa de poder encontrar sua folha; elas foram catalogadas por esse sistema, e se diz que foram divididas em 108 ou 1008 grupos ou categorias de digital, cada uma tendo um nome como, por exemplo, Rettai Chuli Mahudam, "coroa de círculo duplo".
Comentário: Existem algumas obras sobre a classificação das digitais para conversão em mapa astrológico, como Your Destiny in Thumb, de R. G. Rao, baseado no Ravi Nadi, Nandi Nadi e Suka Nadi, para se achar o ascendente pela digital do dedão; e em seu livro Natal Chart of the Palm, ele mostra como desenvolver o mapa astrológico a partir da palma da mão.
Após tirar a impressão da digital, o leitor nadi vai até sua pequena biblioteca e, em geral, traz de cinco a seis maços de folhas. Ele informa (através de um tradutor da língua desejada) que vai fazer algumas perguntas para poder encontrar a folha apropriada, mas a pessoa deverá apenas responder sim ou não. Depois das perguntas e de separar as folhas de acordo com as respostas, se a folha apropriada estiver ali, ele a mostrará ao consulente. O leitor então começar a ler em voz alta, quase que cantando em tamil arcaico, e gravando num aparelho de fita K7. A cada final de frase, ele explica o significado.
Em geral, ele vai dizer o seu nome, o de seus pais, filhos, esposa (o), quantos irmãos tem, se estão vivos ou não, e alguns eventos. Depois de cada verso, ele verifica se todos os detalhes estão de acordo com a realidade; caso contrário, vai seguir para a próxima folha, que conterá total ou parcialmente detalhes diferentes.
Essa primeira leitura se refere ao primeiro capítulo, ou kandam, como é chamado em tamil; trata-se de uma introdução geral baseada no ascendente.
No total, são 17 kandams, cada um conforme o significado de cada casa astrológica, que são 12, e mais 5 capítulos extra, sendo:
13º kandam: Shanti Kandam – vidas passadas, erros cometidos e remédios ou medidas corretivas para anulação dos efeitos com mais rapidez;
14º kandam: Deekshakandam – mantra e talismãs apropriados:
15º kandam: Avushathakandam – doenças crônicas e remédios ayurvédicos apropriados;
16º kandam – Dasa/ Buktikandam – predições para períodos presentes;
17º kandam – Kandam especial de astrologia horária ou Prasna. Esse capítulo é bem interessante, pois corresponde a perguntas com detalhes como, por exemplo, um caso narrado na The Astrological Magazine (março, 1991).
"Um amigo engenheiro tinha um problema e queria meu conselho. Seus subordinados o haviam enganado numa obra de construção para o governo, causando perdas econômicas. Numa visita aleatória do pessoal do Ministério foi comprovado o fato, sendo este engenheiro tido como responsável. Ele temia pelo pior, e então fomos consultar um Vasishta Nadi".
"O leitor Nadi tomou um maço de folhas de palmeira, disse que uma leitura para ascendente Virgem seria dada, e perguntou se a pessoa que pedia a leitura era do ascendente de Virgem. Com a resposta negativa, ele pediu que voltássemos em uma hora. Após retornarmos, ele perguntou se era ascendente Leão. Com a resposta afirmativa, o Nadi aconselhou a continuar dizendo a verdade sem medo, e nada de sério aconteceria. A cada novo evento envolvendo o assunto – e devem ter sido por volta de uns 20 – voltávamos para aconselhamento, e nos eram descritos os acontecimentos por trás dos bastidores. Quando finalmente o caso foi encerrado, a inocência de meu amigo foi estabelecida, apenas com a admoestação de não ter exercido suficiente controle".
Este nadi é apenas do tipo narrativo, não discutindo efeitos das posições planetárias, aspectos, etc. Portanto, continua um enigma para mim como ele pode situar a questão. Se fosse leitura da mente, como ele pôde predizer corretamente o resultado final bem como os acontecimentos por trás dos bastidores?
Vejamos a seguir um exemplo de leitura Nadi narrada pelo astrólogo Aradhakulu.
"Numa visita a um leitor Kowmara Nadi, fui levado por meu sogro, em 22/2/1968, quando tinha 29 anos de idade, e após passar pelo processo explicado acima para encontrar a folha, perguntei-lhe sobre a minha profissão (10º kandam), e ele leu em verso tamil, traduzindo para o inglês".
"Disse as posições planetárias do meu mapa – Sol, Mercúrio e Marte em Leão; Júpiter em Aquário; Ketu em Áries; Lua em Capricórnio; Saturno em Peixes; Vênus e Rahu em Libra no Ascendente. Disse que o nome é Venkata Ramana, a mãe é Annapurna, o pai é Venkat Rao. O regente da 10ª sendo a Lua, está em casa angular. Vênus na própria casa e aspectado por Ketu. Júpiter e Saturno estão em recepção mútua. Marte e Mercúrio estão na 11ª casa. Por essas razões, ele disse, eu teria propriedades ancestrais médias, um ótimo início de carreira e muito progresso em minhas empreitadas".
"Completaria minha educação aos 21 anos de idade, e me empregaria no ano seguinte. Teria talento para fazer partes ou peças de máquinas, trabalhando para uma empresa privada. Seria pago adequadamente. O governo me ajudaria após os 23 anos. Seria empregado na área de manufatura de artigos para Defesa. Mostraria minha eficiência no planejamento e desenho de vários equipamentos. Seria conhecido aos 27 anos. Ficaria ocupado na elaboração de explosivos para destruição de propriedades e vidas. O conhecimento científico desenvolvido seria total. Meu poder aumentaria, supervisionando tudo. Aos 30 anos, meu conhecimento aumentaria ao analisar operações com mísseis. Minha remuneração seria satisfatória. Após os 38 anos, seria conhecido em outros países. Novos esquemas seriam preparados aos 40 anos, e a escala de meus pagamentos seria ainda mais melhorada. Seria honrado pelo poder central. Responsabilidades administrativas me seriam confiadas aos 48 anos, com atenção às matérias-primas. Seria considerado em alta estima pelo poder".
Comentários dessa leitura por Aradhakulu:
"As predições estavam todas corretas, exceto a de que eu manteria a posição por mais algum tempo, o que não aconteceu, pois me aposentei aos 52 anos, não conseguindo mais emprego e continuando apenas com meus hobbies de filosofia e astrologia. No entanto, é de se estranhar que o Nadi não fale mais nada após os 50 anos".
"Eu o procurei após minha aposentadoria, mas o leitor informou que minha folha sobre profissão não estava disponível, o que me confirmou que não teria mais emprego. A leitura astrológica parece estar baseada no trânsito de Saturno, de 2,5 anos por signo".
A chave para se conseguir fazer tais predições com razoável ou alto percentual de acertos está na divisão do signo em 150 partes, chamadas Nadi Amsas. Se dividirmos os 30 graus de cada signo em 150 partes, teremos 1800 nadiamsas para todo o zodíaco (360 graus); e, para cada grau completo, teremos 5 nadiamsas; isto é, se dividirmos um grau em cinco partes, teremos 24 segundos para cada parte. Ainda dividem cada parte em dois, sendo a primeira chamada "anterior" (Poorvardha), e a segunda "posterior" (Uttarardha). Assim, temos 300 partes por signo; a interpretação varia para cada 12 segundos de grau ascendente.
Resumindo: para cada 12 segundos de grau ascendente, e conforme as combinações planetárias, teremos diferentes interpretações. Por exemplo, no nascimento de gêmeos – quando normalmente existe uma diferença de alguns minutos entre um e outro – apesar do nascimento ocorrer nas mesmas coordenadas de espaço, teremos interpretações diferentes, apesar das combinações planetárias serem muito parecidas, variando apenas o grau ou minutos do ascendente e, talvez, os minutos de grau da posição da Lua.
Um exemplo de leitura nadi ao vivo nos foi descrito por Kesavan Nair(in memoriam), engenheiro nuclear e astrólogo indiano que vive em São Paulo, e que em outubro de 2002 esteve em sua terra natal, Kerala, para visitar sua irmã doente com câncer.
Quando Kesavan ainda era menino, sua mãe adoeceu, e seu pai e o cunhado foram a um leitor nadi para saber da situação da esposa. O pai contou que, entre outras coisas, o leitor disse que ele tinha um nome de Rama (Raghavan) e estava acompanhado do cunhado com um nome de Shiva, e iam para saber sobre a saúde da esposa.
Isso ficou na cabeça de Kesavan, mesmo que, na época, ele não se interessasse por astrologia. Portanto, quando sua sobrinha lhe disse que um leitor nadi tinha alugado um apartamento de seu irmão, ele quis consultá-lo. A sobrinha marcou a consulta com Siva Ulaga Nathan, e foram juntos. Lá chegando, o leitor da linha Agasthya Nadi tirou a impressão da palma de sua mão para poder procurar sua folha de palmeira. Foi a outro quarto e voltou com cerca de meia dúzia de maços, cada maço contendo cerca de 100 folhas, e disse: "Se sua folha estiver aqui, deverá se encontrar num destes maços".
Começou abrindo a primeira folha e fazendo a pergunta:
– Seu pai tem nome que se inicia com o som K?
– Não.
– Então, vamos para a próxima folha – disse o leitor. Você não tem irmãos?
– Tenho.
– Então, vamos para a próxima folha.
– Você é advogado?
– Não.
– Então, vamos para a próxima folha.
Após umas 20 folhas, começou a acertar algumas questões, e outras não, sempre indo para a próxima folha. Até que, numa folha, chegou a acertar praticamente todas as questões, como:
– Você tem um irmão e quatro irmãs vivas, das quais duas são viúvas.
O estranho nesse caso é que as duas irmãs ficaram viúvas aproximadamente um ano antes, e a irmã doente veio a falecer cerca de dois meses após a visita ao nadi. Portanto, se a consulta tivesse sido alguns meses depois, ele não teria acertado, pois somente três irmãs estariam vivas.
Continuando com a leitura, o nadi lhe disse que era engenheiro, acertou o nome do pai e da mãe, dizendo que o nome dela era de uma divindade e que começava com MA. Acertou o nome da esposa (Vânia, em português), dizendo que era Vani, que em tamil arcaico significa "som, a fala". Disse que tinha um filho, mas não falou da filha que Vânia tinha do primeiro casamento. Disse também que tinha um irmão já falecido, e acertou.
Assim, leu parte do primeiro capítulo referente àquele mapa natal, e disse para ele voltar no dia seguinte porque iria escrever um livreto – cerca de 40 páginas – contendo o mapa natal e um texto mais completo, e que iria lê-lo em voz alta para gravar numa fita.
Kesavan assim fez e, no dia seguinte, a fita foi gravada. Ele lembra que, além do já exposto, também foi dito que sua aposentadoria, que ele esperava sair dentro de alguns meses, só sairia após mais de um ano, o que aconteceu, e que após isso ele entraria num pequeno negócio com a esposa, o que está acontecendo parcialmente até o momento.
Após terminar a leitura e gravação, o nadi lhe perguntou se gostaria de ler mais algum capítulo dos 17 existentes; ele não tinha todos naquele local e, portanto, dos que havia, foi escolhido o de vidas passadas. Em resumo, o texto dizia que Kesavan fora um comerciante inescrupuloso no sul de Kerala, destruindo os concorrentes, sem ética, e até chegando a pôr fogo na loja de um deles. Mais para o final de sua vida, se arrependeu, chegando a ajudar muitas mulheres e, por isso, chegou a ser respeitável nesta vida.
Para terminar de resgatar as dívidas passadas, deveria ir a 9 templos, sendo 7 no sul da Índia, consagrados a Subramanyam, um a Devi, e o último a Vishnu, localizado em Trivandrum. Deveria fazer oferendas simples em cada templo.
Henry Feder

Acharya Instrutor do Ashram Sarva Mangalam - SDM
Nasceu em 07 de junho de 1949 De Milão, Lombardia, Itália






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